quinta-feira, 19 de março de 2009

O LEGADO DE TEIXEIRA DE FREITAS

O legado de um visionário

Pouco conhecido da maioria dos brasileiros, o baiano Mário Augusto Teixeira de Freitas se destacou como um dos mais expressivos pensadores do país, em um período marcado por expoentes saídos de movimentos modernista e revolucionários dos anos 20, como Alceu Amoroso Lima, Gilberto Freire, Azevedo Amaral e Oliveira Viana. O seu pensamento teve como marca a abrangência da reflexão teórica e a eficácia da intervenção no sistema político, administrativo, social, técnico e científico.

De seus textos, relatórios, discursos e outras peças emerge um pensamento global sobre a realidade socioeconômica, política e administrativa do Brasil. Idéias como a da interiorização da Capital Federal, que inspirou a construção de Brasília, ou a da reforma administrativa com a racionalização dos serviços públicos, influenciaram de forma decisiva a arte de governar o Brasil.
Como avalia Icléia Magalhães Costa, editora da publicação “Teixeira de Freitas: pensamento e ação”, da Fundação IBGE, “suas idéias orientavam o poder público rumo à racionalidade que a concepção iluminista de Teixeira de Freitas antevia para o Brasil, num contexto de mundialização do progresso e do bem-estar das populações, sob o impulso da revolução da técnica e da ciência”.

Para a grande maioria dos seus admiradores, a criação máxima do pensamento e ação de Teixeira de Freitas foi o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A instalação do sistema estatístico do Brasil teve como suporte conceitual um novo princípio orgânico de racionalização: a cooperação interadministrativa, unindo as esferas governamentais nas áreas federal, estadual e municipal.

Enredando estrategicamente em suas malhas todos os níveis de governo e todas as áreas administrativas, o IBGE constitui o sistema de cooperação governamental mais abrangente e fecundo que se poderia conceber num país como o Brasil. Trata-se inquestionavelmente de uma prodigiosa invenção social, adequada às peculiaridades geográficas, à imensidão territorial e ao dinamismo demográfico do Brasil.

Antes de sua criação, o organismo estatístico brasileiro era caracterizado pela heterogeneidade, o que impossibilitava o conhecer, o medir e o sentir o Brasil em sua verdadeira grandeza. A idéia da criação de órgão nacional, incumbido da coordenação das atividades geográficas, começou a ser considerada, objetivamente, quanto à sua concretização, em 1931, por dois grupos de intelectuais: um, o grupo de cientistas, à égide da Academia Brasileira de Ciências; outro, o grupo de estatísticos.

Mas foi Teixeira de Freitas quem iniciou a campanha pela criação do sistema oficial de coordenação nacional das atividades estatísticas e geográficas do país. Na época, era diretor da Diretoria de Estatística do Ministério da Educação, tendo encaminhado ao ministro da época o anteprojeto da criação do “Instituto Nacional de Estatística e Cartografia”. Já então fermentava em sua imaginação criadora a idéia da grande teia nacional de estatística que enredasse em sua malha, como bons parceiros, os estados, os territórios e os municípios.

Sonhava com uma estrutura organizacional capaz de captar, interpretar, sistematizar, quantificar e divulgar os fenômenos e os fatos que refletem as pulsações sociais, culturais, econômicas, políticas e outras da nação brasileira. Sua preocupação predominante era criar um sistema que retratasse o Brasil, não apenas no que concerne à educação e à cultura, senão também em todos os campos da atividade social, por meio de informações estatísticas confiáveis e autorizadas. O seu sonho começa a se tornar realidade em 1934, quando foi criado o Instituto Nacional de Estatística, baseado em seu plano de cooperação interadministrativa entre as três esferas governamentais. A partir de 1938, o INE foi denominado de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A importância da criação de uma instituição como o IBGE pode ser medida pelas próprias palavras de Teixeira de Freitas ao se debruçar sobre o desafio que o contexto nacional impunha à época: “quadros dantescos, mas pouco perceptíveis para aqueles que se pretendem observar e estudar o Brasil sob a luz ofuscante dos focos da exótica e superficial civilização das nossas capitais, sem habituar primeiro os olhos à escuridão”. O que ele desejava era olhar na escuridão para ver os problemas, diagnosticá-los, e elaborar idéias claras e nítidas, num esforço de pensamento na direção da realidade objetiva.


Revista Bahia Invest
Salvador v. 03 n. 5 setembro de 2005

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