quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O QUADRO NEGRO

Todos guardam em sua memória da sala de aula a presença significativa do quadro-negro. Considerado uma peça essencial do mobiliário escolar, povoa o imaginário de nossos tempos de escola5. Essas recordações despertam lembranças alegres, mas também situações de medo e de humilhação – não saber resolver as contas de aritmética frente a todos os colegas, o castigo de escrever no quadro várias vezes a mesma frase, as extensas lições e temas de casa que a professora escrevia e que deviam ser copiadas durante grande parte do turno escolar, os avisos copiados para serem levados aos pais.

É no final do século XIX que o uso do quadro-negro instala-se nas escolas e que começa a ocupar um espaço central na sala de aula, período em que paulatinamente consolidam-se os sistemas públicos de instrução elementar e, paralelamente, crescem as exigências de um mínimo de mobiliário e material escolar. A lousa ou ardósia também compunha o material escolar do aluno, sendo o seu único instrumento de trabalho até meados do século XIX, antes da generalização do uso do caderno escolar. É um quadrado de madeira que protege a fina placa de xisto retangular de 20 a 30 cm de comprimento por 15 de largura, muitas vezes quadriculado. Somente depois que os alunos sabiam escrever bem e com caligrafia bonita nas pedras de lousa, é que lhes era permitido começar a escrever com tinta e pena de aço. Para apagar o que tinham escrito na lousa, os alunos tinham um paninho e um vidrinho com água. Cuspir na pedra de lousa para apagar alguma coisa era proibido, mas, mesmo assim, era feito ocultamente com muita freqüência, indicam que a retirada das lousas individuais nas séries iniciais, especialmente nas capitais, se deu pelo crescimento da produção do papel nos anos 1920. A escrita a lápis em papel permitia uma leveza do traço que a de lápis de pedra não podia obter. No interior do estado de São Paulo, no entanto, a lousa individual foi utilizada até os anos de 1940 para as primeiras séries.

Os alunos faziam sobre a ardósia várias atividades antes de as copiarem no caderno - as operações matemáticas, a decomposição de frases, escreverem os resultados do cálculo mental, desenharem. Além de escrever e calcular, a ardósia foi o suporte essencial das interrogações orais do professor.

Ao longo do século XX, o quadro-negro vai assumindo novas texturas, é substituído pelo quadro-verde, mas continua dominando a centralidade do processo de ensino-aprendizagem , para atender às exigências da moderna higiene tem-se procurado fazer a lousa de cor branca com giz preto, quadro marrom, azul celeste e azeitonado.

As pedras ou tábuas de mármores foram inicialmente usadas como superfícies próprias à escrita;
a pedra branca, o carvão e o gesso também foram utilizados para escrever. O ensino mútuo / monitorial inaugura uma arquitetura do espaço escolar, em que mobiliário e material passam a ser dispositivos fundamentais para o sucesso do método.

As vantagens do uso do quadro-negro residiam na possibilidade de o professor utilizar-se desse
dispositivo para o ensino simultâneo das primeiras lições de leitura e de escrita. O quadro-negro para o professor e a lousa para o aluno eram meios pelos quais seria conhecido o alfabeto e seriam desenhadas as letras Além disso, era um excelente meio de ensinar em pouco tempo os alunos a ler e escrever.

À medida que se introduz o método simultâneo, o quadro-negro assume o seu lugar privilegiado
na sala de aula, junto com os quadros murais, os mapas, o abecedário, etc. Com o realismo pedagógico e o método intuitivo, ampliam-se os recursos materiais como auxiliares do processo ensino-aprendizagem.

A professora primária Rosalina Frazão (1884), ao falar sobre o material das escolas brasileiras, denuncia a má qualidade dos quadros-negros, recomendando sua substituição pelas tábuas ardoseadas empregadas nos Estados Unidos, justificando:
“é incalculável o incomodo que dá um quadro-negro de madeiras, a que se adapta uma tinta mal
preparada; o giz fica-lhe tão aderente que é quase impossível trazer o quadro limpo. Torna-se necessário molhar a esponja, o que, longe de concorrer para o asseio do quadro, faz com o giz uma espécie de lama branca que impede completamente o trabalho regular. Ao passo que as tábuas preparadas com ardósia deixam-se limpar facilmente com esponja seca”.

O quadro-negro também é um espaço preferido para brincadeiras nos intervalos escolares, de expressão da contestação dos alunos. Está presente nas famosas fotos de fim-de-ano escolar: o docente sentado na mesa da professora, tendo o quadro-negro ao fundo,alguns livros, a bandeira e o globo terrestre.

Enfim, o dia a dia escolar era transmitido e ainda hoje é através desse recurso de escrita e de disciplina do emprego do tempo e do fazer escolar, da escola infantil à Universidade.
O quadro-negro também está associado à representação da docência. Em fotos, charges, desenhos, pinturas, etc. a figura do professor é costumeiramente retratada diante de um quadro-negro.

O sucessor do quadro-negro, em breve será a lousa digital , uma plataforma sensível ao toque, que funciona como um grande monitor que exibe arquivos de fotos e de vídeos preparados pelo professor e que também pode receber informações escritas diretamente na tela. Além disso, a lousa digital está conectada em rede com o computador dos alunos, para que visualizem a aula nos terminais instalados nas carteiras.

Finalizando, o quadro-negro/verde/digital – do giz à caneta eletrônica - como suporte das experiências cognitivas e estéticas da vida escolar, possibilita reconstruir a memória de uma prática educativa arraigada no cotidiano de todo aluno, na perspectiva de uma história das práticas escolares.

Um comentário:

  1. Gostaria de saber as desvantagens da utilização do mesmo...

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